sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

SALVE JORGE

Jorge sentou praça na cavalaria
E eu estou feliz porque eu tambem sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham pés, e não me alcancem
Para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem
Para que meus inimigos tenham olhos, e nao me vejam
E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo, meu corpo nao alcançarão
Facas e espadas se quebrem, sem o meu corpo tocar
Cordas, correntes arrebentem, sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é de Capadócia,
Salve, Jorge! salve, Jorge!
Salve, Jorge! salve, Jorge!
Salve, Jorge! salve, Jorge!

(Caetano Veloso)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008


Falta de ti,falta de um “R”

Quando te vi pela primeira vez, lembro como se fosse hoje, notei algo de diferente, algo que logo associei ao mar. No início achei que fosse a imensidão, devastadora como o horizonte que parece nunca se aproximar. Depois comecei a imaginar se não seria o tom misterioso, o elo que ligava você àquele mundão de água. Não, não sabia o que era, por isso apelei e fiz ligações das mais absurdas, te imaginando como uma parte de Atlântida, um tritão ou um tufão.
Como era de se esperar, como o próprio oceano, você me fez aquietar. Acalmei-me e deixei a brisa bater em minha face e, apesar do vai-e-vem da maré, parecíamos um ditongo perfeito.
Tudo parecia tão calmo, sereno, que quando dei por mim e abri meus olhos já estava atracado, perdido na praia, sozinho, espiando de longe sua beleza e suas caricaturas.
Hoje, após todo esse tempo, entendo em que você se assemelha com o mar: como a água que bate insistentemente na encosta rochosa, você vai e vem nos meus pensamentos, nos meus sonhos. Passional. E esse ir e vir não terá fim enquanto eu não resolver estar mais uma vez a bordo dessa viagem à guisa de uma nova aventura.

Uma pena bem aplicada

O que vale a pena?
Nossa casa, nosso carro, nossos amigos, família, faculdade?
O que vale a pena se de repente tudo passa e a única coisa que resta é a lembrança do que fomos e do que fizemos – às vezes nem isso.
O que vale a pena?
Sofrer por amor ou não amar pra não sofrer?
O que vale a pena?
Planejar o futuro pra ter uma vida melhor ou acreditar que o futuro é agora e viver a vida acreditando que planos são perda de tempo?
A vida é tão frágil.
O que vale a pena? Vale à pena?
Vale a pena achar que somos tão diferentes a ponto de fazer guerras e mais guerras, mortes e mais mortes?
Vale a pena achar que seu deus é melhor que o do outro e brigar por isso?
Será que a pergunta que devemos fazer é realmente “de onde viemos”e “para onde vamos” ou se ter essas respostas vale mesmo a pena?
Ah, se soubéssemos fazer as perguntas certas... muitos judeus não teriam morridos por mero capricho humano, muitos Aiatolás deixariam de atolar a vida daqueles que só querem um pouco de paz, muitas duvidas sumiriam pois saberíamos que não vale a pena.
Escolhemos a pena do fora da lei sem saber que estamos todos fadados a mesma pena.
Então o que vale a pena?
Tudo é tão breve e a pena voa leve. Voa, voa e vemos que a pena já não vale o quanto achamos que vale a pena. Vale A pena.
Sentiríamos pena em saber que nada vale a pena. Por isso criamos, e por isso fantasiamos, e por isso dizemos que tudo vale a pena quando a alma não é pequena... mas só quando não é.

Meninos: água, fogo e indulto

Como renunciar a essa visão que toma conta de nossos olhos, e passa ao mesmo tempo uma sensação de completa inocência? As curvas que se multiplicam, nuanças da forma complexa e abstratamente concreta. Lindas. As cores completam e aumentam o impacto de forma celestial e cambiante. Genial. Pura e virtuosa, como uma canção que salta dos lábios puros de querubins, a gota do orvalho pela manha. Viril, como a imensidão do mar azul que nos tira o fôlego e nos entorpece por inteiro. Ah, se eu pudesse compreender de onde vêm tais criaturas, e quem sabe, perpetuar essas tão bem traçadas linhas ou reproduzir em larga escala. Diria então que a vida se encontra nelas e entenderia o que um dia se passou na mente de Michelangelo.
A bela capacidade de atrair as atenções não pode ser descrita, apenas comparadas com os milagres da natureza como eles próprios, talvez em forma de música ou de uma bela pintura, mas palavras dificilmente podem descrevê-los, no máximo pincelar uma breve emoção que os olhos transmitem ao coração.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Férias de Verão

UMA LEMBRAÇA

O sol brilhava meio acanhado no céu azul, ficava lá, como se observando as brincadeiras que naquele tempo pareciam mais saudáveis, e quando não estava mais a fim de fazer seu papel de amigo das crianças, dava lugar a uma chuva grossa, mas não livre da uma beleza equivalente. Um típico dia de verão... férias de verão... nunca gostei muito dessa termologia, me soa meio americanizado, sempre preferi dizer simplesmente um dia de um dezembro qualquer, ou talvez “nas férias de fim de ano”. Independente disso ela estava lá com seu sorriso cativante, pela morena e uma magreza invejável. Bela. Realmente chamava minha atenção e os doze ou talvez treze anos passados não faziam muito sentido sem lembranças dela. Mas agora não, estávamos morando na mesma rua, e o que é melhor, estávamos de férias e “afins” um do outro. Ela parecia inocente. Acho que todas as meninas parecem quando querem. O fato é que ela me fascinava. Amanda. Ela vai rir quando ler isso, nem sei se ela vai ler, mas se ler, vai rir, eu estou rindo ao escrever, imagina.
A única coisa que não me agradava era aquele parrudinho do outro lado da rua. Estranhamente, agora me parece que todos mudamos pra lá na mesma época, não me lembro de ninguém em outros momentos, só lembro-me dela e de como as meninas falavam do parrudinho, mas ela não, não, ela era diferente... bem, pelo menos na minha presença, o que hoje em dia já é uma coisa louvável por demais.
Eu bem gostaria que ele não estivesse ali, não naquelas férias de dezembro, não naquelas férias de verão, o nome já não fazia mais tanta diferença, o único estorvo era o parrudinho do outro lado da rua.
Eu não gostava dele, não que tivesse algum problema com ele, o problema era que não tinha lugar par ele nessa história, não que eu soubesse.

O carro azul escuro encostado na calçada era a única coisa que tínhamos visão, o resto eram apenas gritos que saltavam das janelas da casa-do-outro-lado-da-calçada e comentados pelos vizinhos sentados nas calçadas tal como José Wilker discutindo sobre as zebras na entrega do Oscar. Eu me sentia estranhamente bem. Ninguém sabia muito bem o que estava acontecendo, só sabíamos que a família do parrudinho era bem estranha. Aparentemente morava com a mãe, o avô e a irmã, agora quem era a mulher revoltada com o chapéu esquisito e o homem que tentava aprumar as coisas, isso ninguém sabia, nem mesmo porque os olhos do parrudinho estavam vermelhos e porque meu sorriso tinha desaparecido totalmente quando ele desceu a escada e entrou no carro azul escuro parado na calçada.

Naquela semana só se falava no parrudinho, e pior, não era só as meninas, agora todos falavam dele, até eu me arriscava palpitar se ele merecia o premio de melhor ator coadjuvante ou melhor filme estrangeiro. Não me sentia o vilão do longa, e nem deveria, a filmagem estava apenas no começo. Tempos depois ele voltava, sem nenhum estardalhaço e dessa vez sem receber tantas atenções - voltadas para as aulas agora. E sem nenhum motivo aparente acabei me aproximando de um dos meus melhores amigos hoje em dia, o parrudinho que entrou de gaiato no romance que no fim das contas não deu em nada.


UM COMENTÁRIO

Estamos passando. Estamos indo, estamos voltando, estamos passando.
A história parece nova a cada dia, a cada momento, mas não é. Ela se repete. Ela vai, ela volta, ela está passando. Achamos que entendemos o desenrolar e que o final é um dos quinhentos que já conhecemos. Não é. A história se repete, mas o final nunca é o mesmo, nunca.
Não leia isso como se fosse uma verdade, por favor, pois não existe verdade, não existe certo nem errado. O que existe é a grande estrada que seguimos sem saber que ela também se move, achamos que conhecemos os personagens, não minta para si mesmo, ninguém é ou pode ser herói oi bandido o tempo todo. Pare pra pensar, não pense em parar, não somo números para que a ordem dos fatores não altere o produto. A certeza está em cada um de nós, ela é falsa... mas não aceite isso como uma verdade. A verdade não existe, os heróis não existem, a historia não existe, a única coisa que se move é a estrada. Tente se mover, você verá até onde pode ir, você irá até onde ela quiser que você vá, você será o que ela quiser que você seja, mas independente disso, você nunca será sempre o vilão ou o mocinho.
A única coisa constante é a estrada. Ela se move pelos personagens, ela caminha sobre nós.
Ela vai, ela vem, ela está passando, mas não entenda isso como uma verdade


Alan e Amanda,atores das minhas “férias de verão”


Abraços e bjinhos e carinhos sem ter fim