sábado, 23 de agosto de 2008

Félicité




Eu vou te dar alegria

Eu vou parar de chorar
Eu vou raiar o novo dia
Eu vou sair do fundo do mar
Eu vou sair da beira do abismo
E dançar e dançar e dançar

Alegria - Arnaldo Antunes



Amanhã quero ver o sol, e se estiver chovendo e com nuvens tempestuosas, eu desenho um sol bem grande na calçada como fazia quando moleque. Amanhã quero conversas olhos nos olhos e risos durante o almoço, quero refrigerante saindo pelo nariz, ser feliz. Crianças correndo pela casa... não, esqueça as crianças, mas o resto eu quero de verdade. Quero o verde do gramado, mesmo que seja a grama do vizinho. Chega de chorar dores e lamentar fatos, agora quero apenas sentir o calor na minha pele.
Fazer um piquenique talvez seja exagero, mas ainda assim eu farei, com direito a cesta e formigas.

Quero abrir a porta da frente e receber os amigos com um Brandy numa mão e as fitas de vídeo do verão que passamos a 20 anos na outra, sabendo que entre risos, alguém comentará que já inventaram o DVD e faremos então um brinde ao primeiro homem que pisou na lua... mas amanhã não quero saber da lua, amanha quero ver o sol. O sol. [FT]

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Minuto de silêncio








When I need you

I just close my eyes and I'm with you

Rod Stewart







Tenho me sentido tão crú ultimamente, sobrando no fim da noite.
E saber que ao fechar os olhos, trago coisas novamente pra perto de mim, me faz mal.
Tentarei pegar o último trem da estação, e não deixarei se fazer notar que ainda tenho um espinho em minha alma. Não, não posso dar esse gosto, a não ser que isso me traga o que realmente almejo.
Lágrimas rolam e sonhos se vão. Pequei ao sentir esse gosto, e me viciar no sabor dessa alma e agora pago por meus breves momentos de deleite. Tudo parece menos denso, e eu me sinto vazio.
Meu nariz entope, me entorpece, minha barba cresce e me sinto crú, no fim da noite que se vai e que não me traz a profundidade desse olhar. [FT]

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O que eu tenho, doutor?





Cuida de mim enquanto não esqueço de você

Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.
[Cuida de Mim - O Teatro Mágico]






Nossa, tanto tempo que não passo por aqui. Nem me lembro como faço pra postar... Hahahhaha... forcei agora.
Bom, se bem que tenho uma boa desculpa pra isso. Estive mal por esses dias, com direito a sair do serviço de ambulância chamada pelos próprios chefes. É, foi uma cena bem interessante, eu lá indo pro hospital deitado naquela maca, com mais de 40º de febre. Mas essa foi a parte menos ruim da situação. Ao chegar ao hospital, fui direto pro soro como era de se esperar. Ali quase entorpecido, tinha ao meu lado um senhor já bem de idade, e outro não tão novo, que deveria ser seu filho:
_ O que ele tem?
_ Não sei, cheguei aqui agora pouco, disse meu acompanhante.
_ Ah, mas é assim mesmo, quando a gente tem que ir não tem jeito.
_ Ainda tô acordado tá...
E o cara ficou nitidamente sem graça, mas também, desejando minha morte assim na minha frente, aproveitando de minha fraqueza...
Depois disso fui pra casa, mas não sem antes minha mãe chegar como se já estivesse no meu velório. Em casa o tratamento foi ótimo, ha tempos não era tão mimado. O ruim mesmo era ter que ouvir a família discutindo meu laudo na cozinha.
_ Não, ele tem que fazer inalação. É só não colocar Berotec porque... é... é só não colocar Berotec.
_ Isso é virose, só pode ser.
_ Não, Rotavirus com certeza
E por aí foram aparecendo todos os remédios e doenças possíveis, passando por quatro médico até entrar no âmbito religioso da coisa, o bom era que daí era só fechar os olhos e esperar a reza acabar.
Do meu quarto dava pra ouvir os vizinhos perguntando se eu tinha melhorado. O telefone não parava de tocar.
O tempo foi passando e com muitos remédios fui melhorando. Mesmo assim acabei descobrindo muitas coisas. Descobri que a Flora não era flor que se cheire, que o Ary Fontoura inda tá vivo e que amigos e bons filmes para alugar nunca me faltarão. [FT]