terça-feira, 29 de abril de 2008

Sobre quando vi duas estrelas caindo do céu


"Por você faria isso mil vezes..."





E eu que era triste

Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade meu amor

Corcovado
Tom Jobim





Algumas pessoas têm a estranha capacidade de aparecer em nossas vidas e mudar tudo de uma só vez.
Aparecem com um brilho diferente no olhar, uma voz que não nos é estranha e um jeitinho que nos faz prolongar o sonho bom da noite que passou.
Esse traço fino que às vezes chamamos de sorriso faz meu coração transbordar de algum sentimento que por enquanto vou chamar apenas de felicidade. Felicidade que vem toda de uma vez. É como um mundaréu de água que me afogaria, não fosse esses teus braços me puxando e me envolvendo. Salvando-me dos medos e anseios mais profundos e obscuros.

A gente passa a vida inteira correndo atrás de um final feliz, mas é nesse momento que temos a chance passageira de ver a singeleza das coisas, de ver como a simples presença de alguém nos entorpece, nos faz dizer bom dia, obrigado, eu te amo...

Amo-te pelo fato de ser e estar. Não que o resto do mundo tenha perdido seu valor, não. Mas essa força que cisma em apertar meu peito labrego, me convence que já não preciso de muita coisa. Pra dizer a verdade não preciso nem estar dizendo isso que lhe digo agora, mesmo porque, pouco se aproximam as palavras dos sentimentos, mas como é lacônica a vida, queria ao menos me fundir a você juntando dois corpos em uma única alma, meu amor.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Pessoas

E enquanto seus olhos iam vagando pelas mesas, os meus dissecavam detalhadamente seu corpo...



Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções


Choro Bandido
Chico Buarque



Eu gosto de pessoas.

Pessoas são mais interessantes que homens e mulheres, são mais interessantes que jovens e velhos, que figurantes e protagonistas, melaninas e sincretismos.

Tenho gostado de pessoas.

Pessoas são menos falsas que diálogos e monólogos, mais ardentes que mártires e santos, mais claras que poetas e poemas, penas e brumas.

A cada dia me aproximo mais de pessoas.

Pessoas são menos cruéis que guerras infundadas. Pessoas são mais sábias que deuses, mais interessantes.

Gostar de pessoas me faz ver, que essa sempre será a mesma fumaça acobreada que entra pelo meu nariz e sai pela minha retina.

Pessoas são mais presentes.

Essas pessoas que passam por minha vida são as mesmas que vejo sentadas na estação, esperando o trem que vem e volta pra eternidade a cada bocado de tempo. Essas pessoas ofuscam minha visão se interpõem entre minha pupila e meu senso crítico, meu juízo.

Ah, se eu pudesse dizer ou escrever, ou inventar alguma coisa sobre elas, diria que são palavras, que povoam nossas mentes e às vezes nossos corações.



quarta-feira, 16 de abril de 2008

Só pra não perder a sensibilidade

Como os dias têm passado rápidos.

A lua se confundindo com o sol, e a infância sumindo aos poucos e dando lugar ao desvario do cotidiano.

Será o fim dos tempos?

Será que Deus se cansou desse filme, e resolveu passar tudo tão rápido, buscando logo o final, a última cena, a última ceia?

Esse ir e vir sem fim tem me dado uma vontade enorme de sentar ao fim da tarde e ver o sol se por, ao lado do meu amor, mesmo que seja por entre antenas de TV e dióxido de carbono.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Com dor de cabeça eu não masco chicletes



Eu tenho andado tão sozinho ultimamente
Que nem vejo em minha frente
Nada que me dê prazer


Casinha Branca
Maria Bethânia






Essa dorzinha me incomoda.

Esse incômodo que vem junto com o mês de abril me abriu. Quero fechar, mas esse tilintar ecoa na minha mente. Beeeeeeeeeeeen. Nada me prende, ninguém me segura. Sigo em frente, atravesso a rua.

A pequena mulher sentada ao meu lado chora ou recorda, não sei ao certo.

_ O que lhe aflige, senhora? Pergunta a branquela simpática.

Ah, sim. Uma cirurgia. Que desagradável. Mas a branquela simpática a afaga, retira a preocupação de seu rosto, o vermelho de seus olhos, e se vai. E se vão. E nos vamos.

Agora sim, mais perto de casa e do fim desse sino que oscila no meu córtex. Mas não a paz, ainda não.

No lugar da pequena mulher, o menino magrela. No lugar da branquela simpática, cabelos negros como a noite sem luzeiros. Sobre as rodas eles giram a conversa, falam do cheque sem fundo, falam do dinheiro a mais na conta do outro. Falha no sistema. Dor nas têmporas. O gerente liga, o médico não chega, as rodas não chegam e essa conversa que se repete, e se repete interminavelmente como o mês de abril e como essa dorzinha que me incomoda.

Depois de tanto tempo já não recordo se o ponteiro das horas é o grande ou o pequeno. Pra dizer a verdade, todos os dois parecem minúsculos, inversamente proporcionais à essa tontura. Sim, está rodando. Os ponteiros, as rodas, o mundo.

Acho que cheguei, ou pelo menos parei.

Acho que me lembro, agora, com uma mão na caneta e outra na xícara de café, aquela ladainha me vem como uma goma de mascar que perde o gosto e não a forma, mas com dor de cabeça eu não masco chicletes.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Cores: Quantas são?


A cor é uma percepção visual provocada pela ação de um feixe de fótons sobre células especializadas da retina.





Muitas cores na calçada
Muitas vozes nas cores
Muitos gestos nas vozes
Muitas vozes nos amores







Ah, não te conheço, nem sei sua cor favorita.
Essa minha nova mania de descobrir tudo por partes, por pedaços que vou montando lentamente, como um quebra-cabeça.
E eu que não tenho medo do algebrismo, me embolo às vezes na tua presença.
Esses traços em teu rosto, calmo.
Essa voz que tremula nos meus tímpanos me entorpece quase na mesma intensidade que teus olhos penetrantes. Linhas de Rembrandt. Vai direto ao coração.
Que tipo de magnetismo me puxa em sua direção nas tardes de sol forte?!
Nos cochichos ao pé do ouvido me sinto mais vivo, mais seguro.
Até meu egoísmo secreto se torna mais direto quando você caminha ao meu lado. Parado.
Vejo então muitas cores na calçada, cores vivas e dinâmicas que se movem em gestos e vozes.
É você a criança que pinta com sua aquarela, despreocupada com o tempo, a figura de Eros.



E chega o fim de tarde, mas ainda não conheço sua cor favorita.