(CENÁRIO SEM MÓVEIS. APENAS UM PIANO BRANCO. FUNDO DE CORTINAS VERMELHAS. UMA ADOLESCENTE SENTADA AO PIANO. VESTIDA COMO QUE PARA UM PRIMEIRO BAILE. ROSTO ATORMENTADO, QUE FAZ LEMBRAR CERTAS MÁSCARAS ANTIGAS. MÃOS POUSADAS SOBRE AS TECLAS. AO FUNDO, O RUMOR DO BOMBO, QUE ACOMPANHARÁ TODA A AÇÃO. AO ABRIR-SE O PANO A CENA ESTÁ MERGULHADA NA SOMBRA. APENAS UMA ÚNICA LUZ, INCIDINDO SOBRE O ROSTO DA MOCINHA. E, ENTÃO, ELA EXECUTA UM TRECHO DA VALSA N9 6, DE CHOPIN. SEU ROSTO PASSA A EXPRIMIR PAIXÃO, QUASE O ÊXTASE AMOROSO. CORTA BRUSCAMENTE A MÚSICA. ILUMINA-SE O RESTO DO PALCO. A MOCINHA ERGUE-SE, SEM SAIR DO LUGAR. TERROR.)
Ontem fui ver a apresentação dessa bela obra de Nelson Rodrigues.
Um monólogo onde uma menina de 15 anos é brutalmente assassinada pelo amante.
O texto é magnífico, a montagem foi bem feita, mas o que me chamou a atenção realmente, foi que podemos facilmente traçar um paralelo entre Sônia, a personagem, e a juventude atual.
Coisas estranhas acontecem, o amante que deveria preteger essa criança, a esmaga com atos de crueldade.
O governo empurra o punhal cada vez mais fundo nas costas daqueles que serão os eleitores de amanhã. Punhal de prata, de penetração macia... quase indolor.
É cruel ter que abrir o jornal todo dia e ver que parece não haver ninguem confiável pra se eleger atualmente. Seria engraçado se não fosse trágico.
Mas a culpa não cai somente no amante, não. Temos culpa no cartório também.
A capacidade crítica parece que se eximiu dos pensamentos. O que vale é ter um tênis legal e sair bem nas fotos da balada. E a política? Que chato, coisa de velho. É tudo ladrão, eu num quero fazer parte disso não.
Infelizmente é o que se ouve nos corredores. O país é uma canoa sem rumo.
Não podemos deixar que o espetáculo acabe e Sônia esteja morta. Somos os autores dessa história e como Nelson, se ele quisesse, o final poderia ser outro. A diferença é que ele escreveu pra teatro e nós escrevemos pra nossas próprias vidas.
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
=]
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