UMA LEMBRAÇA
O sol brilhava meio acanhado no céu azul, ficava lá, como se observando as brincadeiras que naquele tempo pareciam mais saudáveis, e quando não estava mais a fim de fazer seu papel de amigo das crianças, dava lugar a uma chuva grossa, mas não livre da uma beleza equivalente. Um típico dia de verão... férias de verão... nunca gostei muito dessa termologia, me soa meio americanizado, sempre preferi dizer simplesmente um dia de um dezembro qualquer, ou talvez “nas férias de fim de ano”. Independente disso ela estava lá com seu sorriso cativante, pela morena e uma magreza invejável. Bela. Realmente chamava minha atenção e os doze ou talvez treze anos passados não faziam muito sentido sem lembranças dela. Mas agora não, estávamos morando na mesma rua, e o que é melhor, estávamos de férias e “afins” um do outro. Ela parecia inocente. Acho que todas as meninas parecem quando querem. O fato é que ela me fascinava. Amanda. Ela vai rir quando ler isso, nem sei se ela vai ler, mas se ler, vai rir, eu estou rindo ao escrever, imagina.
A única coisa que não me agradava era aquele parrudinho do outro lado da rua. Estranhamente, agora me parece que todos mudamos pra lá na mesma época, não me lembro de ninguém em outros momentos, só lembro-me dela e de como as meninas falavam do parrudinho, mas ela não, não, ela era diferente... bem, pelo menos na minha presença, o que hoje em dia já é uma coisa louvável por demais.
Eu bem gostaria que ele não estivesse ali, não naquelas férias de dezembro, não naquelas férias de verão, o nome já não fazia mais tanta diferença, o único estorvo era o parrudinho do outro lado da rua.
Eu não gostava dele, não que tivesse algum problema com ele, o problema era que não tinha lugar par ele nessa história, não que eu soubesse.
O carro azul escuro encostado na calçada era a única coisa que tínhamos visão, o resto eram apenas gritos que saltavam das janelas da casa-do-outro-lado-da-calçada e comentados pelos vizinhos sentados nas calçadas tal como José Wilker discutindo sobre as zebras na entrega do Oscar. Eu me sentia estranhamente bem. Ninguém sabia muito bem o que estava acontecendo, só sabíamos que a família do parrudinho era bem estranha. Aparentemente morava com a mãe, o avô e a irmã, agora quem era a mulher revoltada com o chapéu esquisito e o homem que tentava aprumar as coisas, isso ninguém sabia, nem mesmo porque os olhos do parrudinho estavam vermelhos e porque meu sorriso tinha desaparecido totalmente quando ele desceu a escada e entrou no carro azul escuro parado na calçada.
Naquela semana só se falava no parrudinho, e pior, não era só as meninas, agora todos falavam dele, até eu me arriscava palpitar se ele merecia o premio de melhor ator coadjuvante ou melhor filme estrangeiro. Não me sentia o vilão do longa, e nem deveria, a filmagem estava apenas no começo. Tempos depois ele voltava, sem nenhum estardalhaço e dessa vez sem receber tantas atenções - voltadas para as aulas agora. E sem nenhum motivo aparente acabei me aproximando de um dos meus melhores amigos hoje em dia, o parrudinho que entrou de gaiato no romance que no fim das contas não deu em nada.
UM COMENTÁRIO
Estamos passando. Estamos indo, estamos voltando, estamos passando.
A história parece nova a cada dia, a cada momento, mas não é. Ela se repete. Ela vai, ela volta, ela está passando. Achamos que entendemos o desenrolar e que o final é um dos quinhentos que já conhecemos. Não é. A história se repete, mas o final nunca é o mesmo, nunca.
Não leia isso como se fosse uma verdade, por favor, pois não existe verdade, não existe certo nem errado. O que existe é a grande estrada que seguimos sem saber que ela também se move, achamos que conhecemos os personagens, não minta para si mesmo, ninguém é ou pode ser herói oi bandido o tempo todo. Pare pra pensar, não pense em parar, não somo números para que a ordem dos fatores não altere o produto. A certeza está em cada um de nós, ela é falsa... mas não aceite isso como uma verdade. A verdade não existe, os heróis não existem, a historia não existe, a única coisa que se move é a estrada. Tente se mover, você verá até onde pode ir, você irá até onde ela quiser que você vá, você será o que ela quiser que você seja, mas independente disso, você nunca será sempre o vilão ou o mocinho.
A única coisa constante é a estrada. Ela se move pelos personagens, ela caminha sobre nós.
Ela vai, ela vem, ela está passando, mas não entenda isso como uma verdade
Alan e Amanda,atores das minhas “férias de verão”
Abraços e bjinhos e carinhos sem ter fim
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3 comentários:
Ah Felippe! Ótimo texto, em especial o "Um comentário". Intenso. Verdadeiro. Me remeteu a Caio quando li. E isso é bom. Abraços e afagos!
Kraka.. que história...
Te vi postando aquele dia,mas somente hoje resolvi ler.
Parrudinho? ¬¬
Dessa eu naum fiquei sabendu!
Pow Felippe, parabéns por suas palavras... elas são como o sorriso de uma princesa...
Nota: O carro era vermelho!!
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