quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Fim de Ano


O tempo tem fugido da minha mente, e quando as casas se enfeitam de luzes coloridas no fim do ano eu ainda tenho meus pensamentos voltados pra mês o de janeiro. Tudo passando tão rapido às vezes me deixa com vertigens. Olhamos pro relógio, esperando que chegue logo o ano seguinte, para então crescermos, tornarmos independentes, ou ficamos anciosos por uma viagem, um emprego novo, a vinda de nossos primos. O tempo passa e, quando nos damos conta, tudo passou tão rápido que nos pegamos agora olhando pro relógio e dizendo: que saudades dos tempos passados, daria tudo para voltar no tempo.
Passam-se as horas, os dias, os anos, e a única certeza que temos é que dificilmente voltaremos a viver o tempo que anciamos tanto para que passasse como um piscar de olhos. [FT]

domingo, 23 de novembro de 2008

Vermelho


Tudo estático. Tudo vermelho e estático. Até mesmo o sangue parece mórbido e gasto na carne dilacerada. Um ferimento aberto que pulsa, mas que não jorra sangue, coagulado como os sentidos. O som, as cores, até mesmo as cores perderam o sabor, a fragrância que antes era de jasmim e agora é de trigo e concreto.
Tudo vermelho e sem muitos contrastes me faz lembrar um tempo que ainda não se passou, que vive apenas imerso ou submerso em meus pensamentos, em minha alma desbravada pelos colonizadores de emoções.
Que bela imagem, formada pelas lágrimas e pelo cansaço no vermelho da boca ou no nariz do palhaço, na maçã do pecado.
Vermelho. Ver. Ver melhor, uma seta que me aponte o caminho ou que me faça ficar parado no mesmo lugar. Estático. [FT]

sábado, 25 de outubro de 2008

Sinestesia



Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,

Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...


[Antífona - Cruz e Sousa]




Sobe.
Desce.
Sobe.
Desce e vejo o horizonte.
Vejo sim, lembro vagamente, mas acredito que tenha visto. Ou pelo menos gostaria de acreditar.
Antes do horizonte podia ver a água, muita água, na verdade conseguia sentir o cheiro dela, mas da cor... da cor não me lembro... talvez fosse azul ou quem sabe esverdeada, pois se fosse manchada de sangue com certeza me lembraria.
Sobe.
Desce.
Sobe e olho pro céu, timidamente, com os olhos meio cerrados, como que pra não encarar o sol que brilha, como que pra não encarar a vida que dói.
Do céu eu me lembro claramente, digo a cor. Negro. Em plena luz do dia. Uma nuvem de chuva parada sobre o mar, sob o céu.
Vai e vem, vou e venho. À procura de uma ponte que ligue as margens, mas não há margens, existe apenas um buraco que suga todos os sonhos e alegrias e tristezas e cores. Um buraco negro que suga horizontes e mares e céus e nuvens, mas não as pontes. As pontes... nunca. [FT]

sábado, 4 de outubro de 2008

Olhar




O mundo está andando pra trás e ninguém percebeu...




Preciso de um herói que me salve dos meus medos, que me carregue nos braços pra longe das tempestades ou que simplesmente fique ao meu lado até eu pegar no sono. Esses dias chuvosos me deixam com medo, e tudo que posso fazer é pedir que o escuro não me invada, que não destrua minhas esperanças.

Tudo é tão repentino e tão passageiro, que a naturalidade das coisas às vezes se perde em meio à fumaça das dúvidas. Ontem lembrei de você e não quis esquecer. Fiquei imaginando como seria tudo, mas não pude deixar de pensar em como seria o nada. [FT]

sábado, 23 de agosto de 2008

Félicité




Eu vou te dar alegria

Eu vou parar de chorar
Eu vou raiar o novo dia
Eu vou sair do fundo do mar
Eu vou sair da beira do abismo
E dançar e dançar e dançar

Alegria - Arnaldo Antunes



Amanhã quero ver o sol, e se estiver chovendo e com nuvens tempestuosas, eu desenho um sol bem grande na calçada como fazia quando moleque. Amanhã quero conversas olhos nos olhos e risos durante o almoço, quero refrigerante saindo pelo nariz, ser feliz. Crianças correndo pela casa... não, esqueça as crianças, mas o resto eu quero de verdade. Quero o verde do gramado, mesmo que seja a grama do vizinho. Chega de chorar dores e lamentar fatos, agora quero apenas sentir o calor na minha pele.
Fazer um piquenique talvez seja exagero, mas ainda assim eu farei, com direito a cesta e formigas.

Quero abrir a porta da frente e receber os amigos com um Brandy numa mão e as fitas de vídeo do verão que passamos a 20 anos na outra, sabendo que entre risos, alguém comentará que já inventaram o DVD e faremos então um brinde ao primeiro homem que pisou na lua... mas amanhã não quero saber da lua, amanha quero ver o sol. O sol. [FT]

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Minuto de silêncio








When I need you

I just close my eyes and I'm with you

Rod Stewart







Tenho me sentido tão crú ultimamente, sobrando no fim da noite.
E saber que ao fechar os olhos, trago coisas novamente pra perto de mim, me faz mal.
Tentarei pegar o último trem da estação, e não deixarei se fazer notar que ainda tenho um espinho em minha alma. Não, não posso dar esse gosto, a não ser que isso me traga o que realmente almejo.
Lágrimas rolam e sonhos se vão. Pequei ao sentir esse gosto, e me viciar no sabor dessa alma e agora pago por meus breves momentos de deleite. Tudo parece menos denso, e eu me sinto vazio.
Meu nariz entope, me entorpece, minha barba cresce e me sinto crú, no fim da noite que se vai e que não me traz a profundidade desse olhar. [FT]

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O que eu tenho, doutor?





Cuida de mim enquanto não esqueço de você

Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.
[Cuida de Mim - O Teatro Mágico]






Nossa, tanto tempo que não passo por aqui. Nem me lembro como faço pra postar... Hahahhaha... forcei agora.
Bom, se bem que tenho uma boa desculpa pra isso. Estive mal por esses dias, com direito a sair do serviço de ambulância chamada pelos próprios chefes. É, foi uma cena bem interessante, eu lá indo pro hospital deitado naquela maca, com mais de 40º de febre. Mas essa foi a parte menos ruim da situação. Ao chegar ao hospital, fui direto pro soro como era de se esperar. Ali quase entorpecido, tinha ao meu lado um senhor já bem de idade, e outro não tão novo, que deveria ser seu filho:
_ O que ele tem?
_ Não sei, cheguei aqui agora pouco, disse meu acompanhante.
_ Ah, mas é assim mesmo, quando a gente tem que ir não tem jeito.
_ Ainda tô acordado tá...
E o cara ficou nitidamente sem graça, mas também, desejando minha morte assim na minha frente, aproveitando de minha fraqueza...
Depois disso fui pra casa, mas não sem antes minha mãe chegar como se já estivesse no meu velório. Em casa o tratamento foi ótimo, ha tempos não era tão mimado. O ruim mesmo era ter que ouvir a família discutindo meu laudo na cozinha.
_ Não, ele tem que fazer inalação. É só não colocar Berotec porque... é... é só não colocar Berotec.
_ Isso é virose, só pode ser.
_ Não, Rotavirus com certeza
E por aí foram aparecendo todos os remédios e doenças possíveis, passando por quatro médico até entrar no âmbito religioso da coisa, o bom era que daí era só fechar os olhos e esperar a reza acabar.
Do meu quarto dava pra ouvir os vizinhos perguntando se eu tinha melhorado. O telefone não parava de tocar.
O tempo foi passando e com muitos remédios fui melhorando. Mesmo assim acabei descobrindo muitas coisas. Descobri que a Flora não era flor que se cheire, que o Ary Fontoura inda tá vivo e que amigos e bons filmes para alugar nunca me faltarão. [FT]

sábado, 12 de julho de 2008

Texto sem Título



A burguesia fede.

A burguesia quer ficar rica.
Enquanto houver burguesia.
Não vai haver poesia
[Burguesia - Cazuza]




Tornei-me um vassalo da mediocridade.
Não me importo mais com o conteúdo nem com o sentido, apenas com as finalidades e objetivos. Tornei-me um hipócrita que não se comove mais com a sintaxe e léxico, vivo apenas para ver os ponteiros girarem em torno de um eixo de deformações.
Sinto que meus sonhos se esvaem por um buraco maior que o da camada de ozônio, e o que resta é um amontoado de frases soltas e descabeçadas.
Tornei-me um vassalo da mediocridade, e agora me misturo com outros súditos tão podres quanto eu, formando uma sociedade onde prevalece o fim sobre os meios.
Minhas últimas palavras coerentes são para alertar sobre o perigo que nos aguarda além dos muros do castelo.


Os muros... sim, agora me lembro. Agora me lembro...

domingo, 22 de junho de 2008

Luxúria

Asmodeus



É a luxúria, nascida dentre a paixão, que se transforma em ira quando insatisfeita. A luxúria é insaciável, e é um grande demônio. Conheça-a como o inimigo.

[Bhagavad Gita 3.37]




Noite. Oh noite, ordeno-te que se prolongue.
Ordeno que me dê mais tempo pra sentir esse ardor em meu íntimo.
Ordeno que não revele meu recôndito, pois ali quero sentir a brisa e o calor. Quero sentir a pele na pele. Sentir o palpitar do coração alheio. Quero morrer num gozo supremo.
Quero deleitar-me de suores e gemidos que flutuam com o vagar do meu corpo.
Não noite, não. Não te permito que vá, não permito que me deixe apenas com a lembrança.
Hoje não posso me contentar apenas com as imagens de minha mente, porque fui ao céu e vi o sexo dos anjos. Libertinos. Divertidos.
Noite. Quero que me envolvas com teu negrume. Abraça-me longamente enquanto sinto o cheiro da maçã do pecado.
Noite, ordeno-te que me deflore.

domingo, 15 de junho de 2008

Gula

Belzebu


A gula é a fome de nós mesmo, é a fome que sentimos por ser vazios daquilo que queremos, pode até se dizer que é a fome de não se ter fome...

(Breno Cavalcante)


Abra-me
Rasga-te
Pressiona-me contra a parede e limita-me
Luz
Raio de trovão
Vontade descontrolada de controlar o ardor
Mexe-me
Gira-te
Desertado sinto apenas o instinto que me puxa em direção ao centro
Mata-me
Morre-te
Agora como um veneno, corta minha carne, dilacera minha alma
Sinto,
Vejo vindo em minha direção o estupor da fome que fere
Da necessidade que lancina,
Da gula que corrói
Porque não precisamos, apenas queremos ter.

domingo, 8 de junho de 2008

Vaidade

Mammon




Mammon é o filho do Diabo e será ele a trazer o apocalipse para a terra quando com a ajuda divina será trazido ao mundo dos mortais.


Está armada a passarela. O palco de poucos.





Quanto mais te observo, mais sinto sua vontade de ser observado. E essa sua vontade me tira do serio, me estraga, e me entrego. Você consegue mexer com essa coisa mais interna do meu ser. Posso sentir esse farfalhar quando sua sombra se aproxima da minha, e então fecho os olhos pra não pensar em como você passa e se vai sem se dar conta de que isso tudo é verdadeiro, ou pelo menos era, até você ferir meu coração com essa lança que te serve a destra, desde teu acordar até o repouso em sua cama de concreto e bronze.
Sinto a areia passar pelo minúsculo orifício dessa ampulheta, e nesse momento começo a misturar os sentidos, as palavras, os pecados. O tempo passa e seus olhos não param nos meus, e dói, e apenas no ápice do seu sofrimento é que consigo dizer aquilo que sua vaidade desenfreada sempre quis ouvir: eu te amo, e não sou mais eu. Estou despido.

domingo, 1 de junho de 2008

Preguiça

Belphegor



O preguiçoso diz: ?há um leão lá fora!? ?Serei morto na rua!?


(Provérbios 22.13)



Passarei as postagens da série, de Domingo pra Segunda, ou Terça, ou outro dia qualquer.
Isso, grande idéia!

domingo, 25 de maio de 2008

Inveja

Lúcifer





"Porventura é este o homem que fazia tremer a terra, que abalava reinos?"


(Isaías 14:12)





Há muito tempo ele viaja pela fértil imaginação.
Ele não desce de seu pedestal feito de sonhos humanos, e para justificar seu terrorismo sanguinário ele se nomeia senhor do saber.
Os finos fios de cabelo branco contrastam com minha inveja, negra como a noite, como a morte, como o amor que brota em seu coração de pedra.


Os olhos atingem uma profundidade lúdica, brincando com as almas que nessa hora mais se aproximam de brinquedos de pelúcia ou marionetes. Bonecos falantes.
Diante dele toda minha certeza se esvai, e fico aqui, consolado pela única certeza de que um dia ele há de partir. Nesse dia começarei a viver.

domingo, 18 de maio de 2008

Ira

Satã




E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande corrente na sua mão. E lançou-o no abismo, e ali fechou-o, e pôs um selo sobre ele, para que não mais engane as nações. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo.

(Capítulo 20:1-3)




"Aff"

Que diabo de gíria é essa?!
A coisa mais sem sentido que já surgiu.
O que aconteceu com o bom e velho palavreado de baixo calão?
Agora me vêm com essa coisa que desde o inicio já mostra uma total falta de criatividade e personalidade. O termo é feio, a escrita é feia, a sonoridade é feia... e além de tudo, não significa absolutamente porra nenhuma. Nadica de nada.

Pra mim a pessoa que usa essa palavra, se é que podemos classificá-la assim, passa uma imagem de superioridade, ou pelo menos de quem tenta se mostrar superior, mas que na verdade mal sabe formular uma frase.
Pode se tratar sim de um preconceito lingüístico, que seja. O que não posso suportar e aceitar, é esse sonzinho entrando todo o tempo nos meus tímpanos.
Não sei o que significa, não sei se significa algo, e SE significa, não faço a menor questão de saber o que.
Enquanto ela estava apenas nas salas virtuais, se referindo a leviandades, estava cada um no seu lugar, mas agora que resolveram integrá-la aos vastos vocábulos das ruas a coisa ficou séria. Mui séria.

Essa palavra realmente me irrita, me trás ira, ódio, é o tipo da coisa que entra por meus ouvidos, acerta meu cerebelo, estraga meu dia e fica tilintando na minha mente, estupidamente. Portanto se querem conservar minha amizade não a utilizem comigo. E tenho dito.

domingo, 11 de maio de 2008

Soberba


Leviatã




“Ninguém é bastante ousado para provocá-lo; quem o resistiria face a face? Quem pôde afrontá-lo e sair com vida debaixo de toda a extensão do céu? ....Quem lhe abriu os dois batentes da goela, em que seus dentes fazem reinar o terror?

(Jó 40:1)

Adoro quando eles se acham os maiorais.
Adoro quando ela pensa que é o centro do Universo.
Adoro quando fica tudo nas entrelinhas.

Esse breve espaço de tempo é redundante, estático, e eles achando que são os maiorais.
Aquele sorriso não me engana, baby.
O que me consola é saber que tudo que eles imaginam, é na verdade uma ilusão. Coelho na cartola. Caolho.

Adoro quando ele me olha com aquele ar de superior. Quando ele pensa que sabe de tudo.
Adoro quando ela, do lado soberbo, fala ao seu ouvido com ar de conselheira do rei.
Adoro, porque hora dessas, todo esse castelinho vai desmoronar, e junto com ele, esse meu adorar. Baby.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Texto para ser lido ao som de Angel [Sarah Mclaughlin]


In the arms of the angel
Fly away from here



Hoje não vou falar de nada belo.
Hoje não vou falar da lua nem do sol.
Hoje não vou usar escrita rebuscada nem artigos indefinidos.
Hoje não sei quem sou, e não procuro entender o mundo. Hoje não.
Hoje quero apenas sentar em meu cantinho, deixar essa lágrima rolar e sentir o vento frio passando por entre meus dedos. Dedos que já não sinto.
Quero me inspirar em Augusto dos Anjos. Quero encontrar meu anjo perdido.

Hoje estou só. Só.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Sobre quando vi duas estrelas caindo do céu


"Por você faria isso mil vezes..."





E eu que era triste

Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade meu amor

Corcovado
Tom Jobim





Algumas pessoas têm a estranha capacidade de aparecer em nossas vidas e mudar tudo de uma só vez.
Aparecem com um brilho diferente no olhar, uma voz que não nos é estranha e um jeitinho que nos faz prolongar o sonho bom da noite que passou.
Esse traço fino que às vezes chamamos de sorriso faz meu coração transbordar de algum sentimento que por enquanto vou chamar apenas de felicidade. Felicidade que vem toda de uma vez. É como um mundaréu de água que me afogaria, não fosse esses teus braços me puxando e me envolvendo. Salvando-me dos medos e anseios mais profundos e obscuros.

A gente passa a vida inteira correndo atrás de um final feliz, mas é nesse momento que temos a chance passageira de ver a singeleza das coisas, de ver como a simples presença de alguém nos entorpece, nos faz dizer bom dia, obrigado, eu te amo...

Amo-te pelo fato de ser e estar. Não que o resto do mundo tenha perdido seu valor, não. Mas essa força que cisma em apertar meu peito labrego, me convence que já não preciso de muita coisa. Pra dizer a verdade não preciso nem estar dizendo isso que lhe digo agora, mesmo porque, pouco se aproximam as palavras dos sentimentos, mas como é lacônica a vida, queria ao menos me fundir a você juntando dois corpos em uma única alma, meu amor.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Pessoas

E enquanto seus olhos iam vagando pelas mesas, os meus dissecavam detalhadamente seu corpo...



Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções


Choro Bandido
Chico Buarque



Eu gosto de pessoas.

Pessoas são mais interessantes que homens e mulheres, são mais interessantes que jovens e velhos, que figurantes e protagonistas, melaninas e sincretismos.

Tenho gostado de pessoas.

Pessoas são menos falsas que diálogos e monólogos, mais ardentes que mártires e santos, mais claras que poetas e poemas, penas e brumas.

A cada dia me aproximo mais de pessoas.

Pessoas são menos cruéis que guerras infundadas. Pessoas são mais sábias que deuses, mais interessantes.

Gostar de pessoas me faz ver, que essa sempre será a mesma fumaça acobreada que entra pelo meu nariz e sai pela minha retina.

Pessoas são mais presentes.

Essas pessoas que passam por minha vida são as mesmas que vejo sentadas na estação, esperando o trem que vem e volta pra eternidade a cada bocado de tempo. Essas pessoas ofuscam minha visão se interpõem entre minha pupila e meu senso crítico, meu juízo.

Ah, se eu pudesse dizer ou escrever, ou inventar alguma coisa sobre elas, diria que são palavras, que povoam nossas mentes e às vezes nossos corações.



quarta-feira, 16 de abril de 2008

Só pra não perder a sensibilidade

Como os dias têm passado rápidos.

A lua se confundindo com o sol, e a infância sumindo aos poucos e dando lugar ao desvario do cotidiano.

Será o fim dos tempos?

Será que Deus se cansou desse filme, e resolveu passar tudo tão rápido, buscando logo o final, a última cena, a última ceia?

Esse ir e vir sem fim tem me dado uma vontade enorme de sentar ao fim da tarde e ver o sol se por, ao lado do meu amor, mesmo que seja por entre antenas de TV e dióxido de carbono.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Com dor de cabeça eu não masco chicletes



Eu tenho andado tão sozinho ultimamente
Que nem vejo em minha frente
Nada que me dê prazer


Casinha Branca
Maria Bethânia






Essa dorzinha me incomoda.

Esse incômodo que vem junto com o mês de abril me abriu. Quero fechar, mas esse tilintar ecoa na minha mente. Beeeeeeeeeeeen. Nada me prende, ninguém me segura. Sigo em frente, atravesso a rua.

A pequena mulher sentada ao meu lado chora ou recorda, não sei ao certo.

_ O que lhe aflige, senhora? Pergunta a branquela simpática.

Ah, sim. Uma cirurgia. Que desagradável. Mas a branquela simpática a afaga, retira a preocupação de seu rosto, o vermelho de seus olhos, e se vai. E se vão. E nos vamos.

Agora sim, mais perto de casa e do fim desse sino que oscila no meu córtex. Mas não a paz, ainda não.

No lugar da pequena mulher, o menino magrela. No lugar da branquela simpática, cabelos negros como a noite sem luzeiros. Sobre as rodas eles giram a conversa, falam do cheque sem fundo, falam do dinheiro a mais na conta do outro. Falha no sistema. Dor nas têmporas. O gerente liga, o médico não chega, as rodas não chegam e essa conversa que se repete, e se repete interminavelmente como o mês de abril e como essa dorzinha que me incomoda.

Depois de tanto tempo já não recordo se o ponteiro das horas é o grande ou o pequeno. Pra dizer a verdade, todos os dois parecem minúsculos, inversamente proporcionais à essa tontura. Sim, está rodando. Os ponteiros, as rodas, o mundo.

Acho que cheguei, ou pelo menos parei.

Acho que me lembro, agora, com uma mão na caneta e outra na xícara de café, aquela ladainha me vem como uma goma de mascar que perde o gosto e não a forma, mas com dor de cabeça eu não masco chicletes.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Cores: Quantas são?


A cor é uma percepção visual provocada pela ação de um feixe de fótons sobre células especializadas da retina.





Muitas cores na calçada
Muitas vozes nas cores
Muitos gestos nas vozes
Muitas vozes nos amores







Ah, não te conheço, nem sei sua cor favorita.
Essa minha nova mania de descobrir tudo por partes, por pedaços que vou montando lentamente, como um quebra-cabeça.
E eu que não tenho medo do algebrismo, me embolo às vezes na tua presença.
Esses traços em teu rosto, calmo.
Essa voz que tremula nos meus tímpanos me entorpece quase na mesma intensidade que teus olhos penetrantes. Linhas de Rembrandt. Vai direto ao coração.
Que tipo de magnetismo me puxa em sua direção nas tardes de sol forte?!
Nos cochichos ao pé do ouvido me sinto mais vivo, mais seguro.
Até meu egoísmo secreto se torna mais direto quando você caminha ao meu lado. Parado.
Vejo então muitas cores na calçada, cores vivas e dinâmicas que se movem em gestos e vozes.
É você a criança que pinta com sua aquarela, despreocupada com o tempo, a figura de Eros.



E chega o fim de tarde, mas ainda não conheço sua cor favorita.


domingo, 23 de março de 2008

Eles

_ Prepara a mesa Carmélia, teremos mais uma boca essa noite.
Ela, a mulher, levanta apressadamente, enquanto ele, o marido, atendia a porta com uma voz abafada. Ao abrir o armário, aproveitou o movimento para olhar pra trás e observar o novo convidado, mas só pode notar o chapéu amarrotado que segurava na mão direita, e o som de suas botas que ecoavam nos cômodos vazios da casa velha.
Em silêncio e com a cabeça baixa, segue decididamente para o fogão à lenha.
Seu corpo cansado parece já não agüentar o peso da vida em suas costas que ardem, ardem como o fogo que queima debaixo da panela de feijão.
Agora, virando pra mesa já pode ver definidamente a face do homem alto e pálido que se esconde atrás da barba negra.
Ele, o marido, já abduzido pela conversa nem a vê chegando com o prato e colocando sobre a mesa que balança em função de um pé mais curto que os outros.
Ela, a mesa, por mais dura que possa parecer, esconde no seu íntimo, toda a história da casa. Cada veio da madeira escura, incrustada de gordura e tempo, conta à maneira da casa as palavras pesadas que saiam das bocas que agora comiam a sopa que se confundia com a fumaça espessa.
_ Creio não haver mais tempo, dizia ele, o convidado, enquanto limpava a boca (ou pelo menos o que se alcançava dela), vocês já foram longe demais. De agora em diante permanecerei em tempo integral aqui nessa casa.
E a sopa ia saindo do prato quente e se dirigindo pra os dentes amarelos dos dois, o marido e o convidado.
Na luz trêmula da lenha, ela, a mulher, ainda teve tempo de ver as últimas colheradas e as cabeças caindo sobres os pratos, e levando mais uma história para a velha mesa que parecia sorrir.
Com ar sereno, pegou o chapéu amarrotado, abriu a porta e nunca mais foi vista na casa, onde agora ele, o convidado, passava tempo integral.

sábado, 15 de março de 2008

Pequeno arrebatamento

Seu sorriso branco deixa meu sábado mais colorido.
Olho pela janela e é por ela que vejo o rascunho do teu beijo.
Sente-se, vamos discutir futilidades e contar como foi a semana. O tempo vai indo, se arrasta e passa.
Quando vejo a profundidade dos teus olhos, sinto minha fragilidade. Vou indo, me arrasto e passo.
Mas logo vem o teu dono e desperto do meu sono, e fico de longe a admirar você que vai indo, se arrasta e passa.



Fotografia: Darlan Costa



"Onde a brasa mora
E devora o breu
Como a chuva molha
O que se escondeu"

sexta-feira, 7 de março de 2008

Digestão mental


Hoje estou querendo escrever de uma maneira diferente, de uma maneira que não pareça eu. Hoje estou querendo escrever de um jeito que as palavras não me pertençam, mas a sede eu não posso deixar que seja outra. A vontade de navegar no oceano da razão é permanente e intransferível. Hoje preciso sentir o sabor da digestão mental, quero saber o preço daquilo que é comum e ao mesmo tempo tão atemporal, divino e gracioso. Quero não mais depender de ser ou não social, comunitário, depravado. A comunicação verbal é gritante até mesmo quando as palavras se eximem de coesão. Uma coisa estranha que gira, roda, vira. Vira mundo, vira lata, lateja na artéria. Mórbida, insana ela pulsa e a repulsa me atrai e me trás vontade de escrever, mas hoje estou querendo escrever de uma maneira diferente, de uma maneira que não pareça eu. Hoje usarei meu pseudônimo.




quinta-feira, 6 de março de 2008

Dia das mulheres

Elas dançam, dançam de acordo com a música que ávida toca. Às vezes é um samba, com suas batidas ritmadas e marcada pelo som das alegrias cotidianas, outras horas, é uma melodia triste e melancólica, e nessa hora uma se apóia na outra. Mutuamente elas vivem, mutuamente elas dançam e mutuamente elas falam deles.

A primeira é forte, se empenha em mostrar seu lado de guerreira, mas guarda no fundo, bem escondidinho, um coração que apanha mais do que bate. E ela ri. Ela ri e diz que sorte no jogo é azar no amor, mal sabe ela que o amor nada mais é que um jogo de cartas marcadas. Ela joga.

A segunda sorri altiva e singela, mostra sua amabilidade e seu jeito de ser nas pequenas linhas de seu rosto. Ela paira no ar como uma pluma leve a oscilar como vento. Ela sobe e acho que está indo em direção ao céu azul ou ao sol que brilha soberano – assim como ela.

A terceira diz que não é ela, diz que espera, mas não sabe o que. Ela é alta e lá de cima deveria ver como as coisas funcionam aqui em baixo. Ela sussurra. Diz que o espera e ele a faz se perder em seus pensamentos, e aí ela chora, não pelos olhos, mas pela alma. Chora e deixa escapar sua fragilidade.

Elas dançam. Elas vivem. Elas jogam e flutuam e choram. Elas amam, pois são mulheres.

Feliz dia das mulheres

Eliane, Patrícia e Mayra

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

SALVE JORGE

Jorge sentou praça na cavalaria
E eu estou feliz porque eu tambem sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham pés, e não me alcancem
Para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem
Para que meus inimigos tenham olhos, e nao me vejam
E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo, meu corpo nao alcançarão
Facas e espadas se quebrem, sem o meu corpo tocar
Cordas, correntes arrebentem, sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é de Capadócia,
Salve, Jorge! salve, Jorge!
Salve, Jorge! salve, Jorge!
Salve, Jorge! salve, Jorge!

(Caetano Veloso)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008


Falta de ti,falta de um “R”

Quando te vi pela primeira vez, lembro como se fosse hoje, notei algo de diferente, algo que logo associei ao mar. No início achei que fosse a imensidão, devastadora como o horizonte que parece nunca se aproximar. Depois comecei a imaginar se não seria o tom misterioso, o elo que ligava você àquele mundão de água. Não, não sabia o que era, por isso apelei e fiz ligações das mais absurdas, te imaginando como uma parte de Atlântida, um tritão ou um tufão.
Como era de se esperar, como o próprio oceano, você me fez aquietar. Acalmei-me e deixei a brisa bater em minha face e, apesar do vai-e-vem da maré, parecíamos um ditongo perfeito.
Tudo parecia tão calmo, sereno, que quando dei por mim e abri meus olhos já estava atracado, perdido na praia, sozinho, espiando de longe sua beleza e suas caricaturas.
Hoje, após todo esse tempo, entendo em que você se assemelha com o mar: como a água que bate insistentemente na encosta rochosa, você vai e vem nos meus pensamentos, nos meus sonhos. Passional. E esse ir e vir não terá fim enquanto eu não resolver estar mais uma vez a bordo dessa viagem à guisa de uma nova aventura.

Uma pena bem aplicada

O que vale a pena?
Nossa casa, nosso carro, nossos amigos, família, faculdade?
O que vale a pena se de repente tudo passa e a única coisa que resta é a lembrança do que fomos e do que fizemos – às vezes nem isso.
O que vale a pena?
Sofrer por amor ou não amar pra não sofrer?
O que vale a pena?
Planejar o futuro pra ter uma vida melhor ou acreditar que o futuro é agora e viver a vida acreditando que planos são perda de tempo?
A vida é tão frágil.
O que vale a pena? Vale à pena?
Vale a pena achar que somos tão diferentes a ponto de fazer guerras e mais guerras, mortes e mais mortes?
Vale a pena achar que seu deus é melhor que o do outro e brigar por isso?
Será que a pergunta que devemos fazer é realmente “de onde viemos”e “para onde vamos” ou se ter essas respostas vale mesmo a pena?
Ah, se soubéssemos fazer as perguntas certas... muitos judeus não teriam morridos por mero capricho humano, muitos Aiatolás deixariam de atolar a vida daqueles que só querem um pouco de paz, muitas duvidas sumiriam pois saberíamos que não vale a pena.
Escolhemos a pena do fora da lei sem saber que estamos todos fadados a mesma pena.
Então o que vale a pena?
Tudo é tão breve e a pena voa leve. Voa, voa e vemos que a pena já não vale o quanto achamos que vale a pena. Vale A pena.
Sentiríamos pena em saber que nada vale a pena. Por isso criamos, e por isso fantasiamos, e por isso dizemos que tudo vale a pena quando a alma não é pequena... mas só quando não é.

Meninos: água, fogo e indulto

Como renunciar a essa visão que toma conta de nossos olhos, e passa ao mesmo tempo uma sensação de completa inocência? As curvas que se multiplicam, nuanças da forma complexa e abstratamente concreta. Lindas. As cores completam e aumentam o impacto de forma celestial e cambiante. Genial. Pura e virtuosa, como uma canção que salta dos lábios puros de querubins, a gota do orvalho pela manha. Viril, como a imensidão do mar azul que nos tira o fôlego e nos entorpece por inteiro. Ah, se eu pudesse compreender de onde vêm tais criaturas, e quem sabe, perpetuar essas tão bem traçadas linhas ou reproduzir em larga escala. Diria então que a vida se encontra nelas e entenderia o que um dia se passou na mente de Michelangelo.
A bela capacidade de atrair as atenções não pode ser descrita, apenas comparadas com os milagres da natureza como eles próprios, talvez em forma de música ou de uma bela pintura, mas palavras dificilmente podem descrevê-los, no máximo pincelar uma breve emoção que os olhos transmitem ao coração.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Férias de Verão

UMA LEMBRAÇA

O sol brilhava meio acanhado no céu azul, ficava lá, como se observando as brincadeiras que naquele tempo pareciam mais saudáveis, e quando não estava mais a fim de fazer seu papel de amigo das crianças, dava lugar a uma chuva grossa, mas não livre da uma beleza equivalente. Um típico dia de verão... férias de verão... nunca gostei muito dessa termologia, me soa meio americanizado, sempre preferi dizer simplesmente um dia de um dezembro qualquer, ou talvez “nas férias de fim de ano”. Independente disso ela estava lá com seu sorriso cativante, pela morena e uma magreza invejável. Bela. Realmente chamava minha atenção e os doze ou talvez treze anos passados não faziam muito sentido sem lembranças dela. Mas agora não, estávamos morando na mesma rua, e o que é melhor, estávamos de férias e “afins” um do outro. Ela parecia inocente. Acho que todas as meninas parecem quando querem. O fato é que ela me fascinava. Amanda. Ela vai rir quando ler isso, nem sei se ela vai ler, mas se ler, vai rir, eu estou rindo ao escrever, imagina.
A única coisa que não me agradava era aquele parrudinho do outro lado da rua. Estranhamente, agora me parece que todos mudamos pra lá na mesma época, não me lembro de ninguém em outros momentos, só lembro-me dela e de como as meninas falavam do parrudinho, mas ela não, não, ela era diferente... bem, pelo menos na minha presença, o que hoje em dia já é uma coisa louvável por demais.
Eu bem gostaria que ele não estivesse ali, não naquelas férias de dezembro, não naquelas férias de verão, o nome já não fazia mais tanta diferença, o único estorvo era o parrudinho do outro lado da rua.
Eu não gostava dele, não que tivesse algum problema com ele, o problema era que não tinha lugar par ele nessa história, não que eu soubesse.

O carro azul escuro encostado na calçada era a única coisa que tínhamos visão, o resto eram apenas gritos que saltavam das janelas da casa-do-outro-lado-da-calçada e comentados pelos vizinhos sentados nas calçadas tal como José Wilker discutindo sobre as zebras na entrega do Oscar. Eu me sentia estranhamente bem. Ninguém sabia muito bem o que estava acontecendo, só sabíamos que a família do parrudinho era bem estranha. Aparentemente morava com a mãe, o avô e a irmã, agora quem era a mulher revoltada com o chapéu esquisito e o homem que tentava aprumar as coisas, isso ninguém sabia, nem mesmo porque os olhos do parrudinho estavam vermelhos e porque meu sorriso tinha desaparecido totalmente quando ele desceu a escada e entrou no carro azul escuro parado na calçada.

Naquela semana só se falava no parrudinho, e pior, não era só as meninas, agora todos falavam dele, até eu me arriscava palpitar se ele merecia o premio de melhor ator coadjuvante ou melhor filme estrangeiro. Não me sentia o vilão do longa, e nem deveria, a filmagem estava apenas no começo. Tempos depois ele voltava, sem nenhum estardalhaço e dessa vez sem receber tantas atenções - voltadas para as aulas agora. E sem nenhum motivo aparente acabei me aproximando de um dos meus melhores amigos hoje em dia, o parrudinho que entrou de gaiato no romance que no fim das contas não deu em nada.


UM COMENTÁRIO

Estamos passando. Estamos indo, estamos voltando, estamos passando.
A história parece nova a cada dia, a cada momento, mas não é. Ela se repete. Ela vai, ela volta, ela está passando. Achamos que entendemos o desenrolar e que o final é um dos quinhentos que já conhecemos. Não é. A história se repete, mas o final nunca é o mesmo, nunca.
Não leia isso como se fosse uma verdade, por favor, pois não existe verdade, não existe certo nem errado. O que existe é a grande estrada que seguimos sem saber que ela também se move, achamos que conhecemos os personagens, não minta para si mesmo, ninguém é ou pode ser herói oi bandido o tempo todo. Pare pra pensar, não pense em parar, não somo números para que a ordem dos fatores não altere o produto. A certeza está em cada um de nós, ela é falsa... mas não aceite isso como uma verdade. A verdade não existe, os heróis não existem, a historia não existe, a única coisa que se move é a estrada. Tente se mover, você verá até onde pode ir, você irá até onde ela quiser que você vá, você será o que ela quiser que você seja, mas independente disso, você nunca será sempre o vilão ou o mocinho.
A única coisa constante é a estrada. Ela se move pelos personagens, ela caminha sobre nós.
Ela vai, ela vem, ela está passando, mas não entenda isso como uma verdade


Alan e Amanda,atores das minhas “férias de verão”


Abraços e bjinhos e carinhos sem ter fim